Agricultor familiar de Beberibe consegue financiamento de R$ 103 mil com o título da terra entregue pelo IDACE
25 de outubro de 2019 - 14:07 ##idace#títulos
Ascom Idace:Texto
Rosenildo Vasconcelos: Fotos
Agricultores familiares conseguiram até setembro de 2019, quase R$ 100 milhões, através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), no Banco do Nordeste (BNB), somente com o título de propriedade rural, do Programa de Cadastro Georreferenciado de Imóveis Rurais e Regularização Fundiária. Executado pelo Instituto do Desenvolvimento Agrário (IDACE), órgão vinculado à Secretaria do Desenvolvimento agrário (SDA), o programa é uma parceira do Governo do Ceará com o Governo Federal, através do INCRA e da Secretaria Nacional de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura. Foram contemplados 7.272 agricultores de várias regiões do Estado que fizeram empréstimos no valor exato de R$ 90,9 milhões.
Entre os mais de sete mil agricultores está o agricultor Antonio Ferreira Lima, 61 anos, conhecido como Antonio de Candio, que conseguiu R$ 103 mil na agência do Banco do Nordeste, em Cascavel. Morador do sítio Umari, em Beberibe, o camponês administra a propriedade juntamente com os filhos, principalmente o Antonio Carlos, “que é quem toca os negócios, indo a Beberibe, Aracati e até Fortaleza. Eu fico mais aqui mexendo na roça”.
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Agricultor Antonio Lima
Dos 182 municípios contemplados com a Regularização Fundiária, o IDACE trabalhou em 132 (72,52%) municípios, tendo sido entregues aos detentores, até setembro, 56.242 títulos, em eventos realizados na sedes dos municípios e aos proprietários que pegam o documento na sede do IDACE, em Fortaleza, ou nos escritórios regionais. Estão programados para entrega aos proprietários, mais de 80 mil títulos, através de parcerias com prefeituras e sindicatos dos trabalhadores.
Entusiasta da Regularização Fundiária, o superintendente do IDACE, José Wilson Gonçalves enfatiza que a posse definitiva da terra dá ao agricultor e agricultara familiar, não apenas a dignidade, mas também a “autonomia de escolher o que plantar e explorar”. O título de terra na sua visão, já começa a mudar o perfil do homem e mulher do trabalho, na medida em que passar a ter acesso às políticas publicas e com isso melhorar “por conta própria”, sua condição de vida. Outro ponto “é que passa a contribuir para o desenvolvimento do seu município, do estado e do país”.
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Superintendente José Wilson e agricultor Hélio Rocha
Para o gerente do BNB em Cascavel, Douglas Ribeiro Camilo, “a concessão do título de domínio dos imóveis rurais pelo IDACE vem possibilitando a realização de financiamentos mais estruturado pelos produtores rurais, garantindo mais qualidade e renda para o agricultor”. Sobra as vantagens para o banco, disse que “traz a possibilidade de alavancar a aplicação dos recursos do FNE na área rural, especialmente na agricultura familiar, com operações de crédito em valores mais elevados, tendo em vista que podem ser amparadas por garantia real”.
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Gerente Douglas Ribeiro
Além disso, complementa Douglas Ribeiro, “cria a expectativa de que um projeto melhor estruturado possa ter maior sucesso em sua implementação, permitindo o retorno dos recursos financeiros e a continuidade dos negócios com os clientes”.
Segundo a Coordenadoria de Comunicação do Banco do Nordeste, o valor financiado depende da análise da capacidade de pagamento, histórico de crédito e garantias de cada agricultor. Os financiamentos do Pronaf podem alcançar até R$ 330 mil.
O prazo de pagamento pode chegar até 20 anos, com até oito anos de carência. Os prazos vão depender da linha de crédito, atividade financiada e capacidade de pagamento do agricultor.
Por meio do Pronaf, segundo o banco, é possível apoio financeiro para as atividades agropecuárias e não agropecuárias desenvolvidas pela família produtora rural. São exemplos de atividades não agropecuárias, os serviços relacionados com turismo rural, produção artesanal, entre outros. O crédito é direcionado para diversas atividades, com predominância da bovinocultura de corte e leiteira.
Empreendedor rural
A Assessoria de Comunicação do IDACE conversou com três agricultores familiares que conseguiram empréstimo no BNB, através das agências das cidades de Caucaia e Cascavel, no sentido de relatarem essa nova experiência de acesso a crédito bancário, que tem proporcionado mudanças significativas no meio rural, particularmente em entres aqueles que conseguiram financiamento, com o título de posse definitiva da terra.
Seu Orlean Monteiro dos Santos, 43 anos, morador do Sítio Ema, em Beberibe, lembra que o primeiro dinheiro conseguido no banco foi de R$ 300,00. “Naquela época era muita exigência e papelada, além das viagens que dava de casa até o banco”. Conta que fazia muita pouca coisa porque “além do dinheiro ser ouco, não rendia”. Seu Orlean dos Santos é cliente o BNB de Cascavel.
Com o título de terra de 9,5 hectares registrado no cartório, Seu Orlean conseguiu levantar R$ 86 mil para investimento em benfeitoria, aquisição de implementos agrícolas, com a construção de um galpão para armazenar a produção; ampliar seus negócios, como a criação de camarão, além de renovar o plantio de caju e manutenção do carnaubal. A terra foi adquirida em 2001.
– Sem o título não se podia fazer nada. Com o título mudou muito para melhor. Ressalta Orlean Santos ao falar das viagens que deu ao IDACE para pegar o documento em Fortaleza. Atualmente gera uns 14 empregos, entre membros da família e trabalhadores da vizinhança. “Antes era só eu e a mulher”.
Orlean explica que vende toda sua produção do caju e carnaubal para empresas de Beberibe e Aracati, “sem precisar sair da porta”, ou seja, o negócio é feito na sua casa, no Sítio Ema. Por ano, colhe uns dois mil quilos de castanha de caju, além da poupa, e uns cinco mil quilos de pó de carnaúba, sendo 3.500 kg do chamado pó preto que em algumas regiões chama de pó bandeira, e 1.500 do pó branco, conhecido também por pó ouro.
No seu entendimento a carnaúba tem algumas vantagens sobre o cajueiro. A primeira delas é que o caju tem de ser colhido tão logo amadureça, porque senão fica perdido, enquanto a carnaúba pode-se passar até dois anos para fazer novo corte, sem nenhum prejuízo. A vida útil do cajueiro também é limitado, quando a carnaubeira tem vida longa.
Antes e depois do título
Outro exemplo é Hélio Gonçalves Rocha, 42 anos, morador da comunidade Sítio São Pedro de Baixo, em Paracuru, agricultor familiar voltado principalmente para a bovinocultura leiteira. Penúltimo de sete irmãos, Seu Hélio tem uma história que se mistura com a de muitos cearenses empreendedores que sonham em alavancar o seu negócio. No caso dele, o sonho é ver prosperar a propriedade rural onde nasceu e fincou as suas raízes.
Com o título de dono da terra em mãos, Helio Rocha conseguiu empréstimo de mais de R$ 10 mil no BNB, através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf. Mesmo precisando de fiador, o agricultor entende que o título foi peça fundamental para levantar o dinheiro no banco “porque sem o título seria muito mais difícil”, completou.
Pelas suas contas e “pensando positivo”, Hélio Rocha acha que o investimento dará retorno e conseguirá quitar o empréstimo “sem maiores dificuldades. A gente sabendo cuidar, ele [o financiamento] se paga”, concluiu.
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Agricultor Hélio Rocha
Segundo Hélio, o título da terra de 4,3 hectares veio para as suas mãos por uma escolha de sua mãe. “Nós fomos ao Idace, na sede de Paracuru, e havia a opção de ela colocar a propriedade no nome dos sete filhos ou de apenas um. E ela me confiou. Eu sou o único que mexe com essas coisas e acho que estou honrando. Eu sei que onde o meu avô estiver ele está contente pelo que eu estou fazendo aqui.”, mencionou.
O produtor cita a aquisição do título de terra como um divisor de águas na sua vida. “Esse documento me possibilitou um financiamento junto ao banco. Como eu sentia vontade de incrementar a minha propriedade, melhorar o ambiente, fiz a aquisição de animais, o melhoramento de cerca e a plantação de capim e cana para o alimento dos animais no período da estiagem. E esse financiamento foi me dando essas condições, porque na agricultura, se você não tem como investir, não dá para chegar ao objetivo. O Hélio de antes do financiamento era só um rapaz que tinha muita vontade de fazer, mas não tinha como. O Hélio de agora é um rapaz realizado”, contou o agricultor.
Atualmente, Hélio possui oito cabeças de gado para produção leiteira e de corte e boa parte da sua propriedade conta com plantação de capim e cana-de-açúcar. O agricultor cultiva mandioca, milho, feijão e batata doce, além do capim para garantir a ração do gado no período de estiagem.
Negócio rural
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Foto Ilustrativa
Seu Antonio do Candio também tem sua história para contar desde quando recebeu seu título de posse definitivo da terra do IDACE, depois de algumas viagens dadas a Fortaleza por seu filho Antonio Carlos.
– Deu uma melhorada grande, porque antes a gente passava até fome. Era eu, a mulher e quatro filhos.
Tudo começou a melhorar para o Seu Antonio de Candio quando ele comprou sua terra depois do patrão ter vendido o local onde era morador. Vendo-se sem chão para morar e produzir, resolveu então comprar “umas terras e fazer projetos no banco”. Começou com R$ 4 mil e de projeto em projeto, foi crescendo “o serviço, os plantios, a aquisição de máquinas e o volume de dinheiro no banco”. Conta, no entanto, que mesmo assim, a agência ainda fazia “muitas exigências”.
Com o título de propriedade rural de 22,3 hectares registrado em cartório, Seu Antonio de Candio levantou R$ 103 mil na agência do BNB, em Cascavel. Com o dinheiro ampliou o plantio de cajueiro precoce e de mudas, fez cerca e a exemplo do Seu Orlean, investiu na infraestrutura da propriedade, “porque além de se ter capital de giro, a gente de estar com a terra pronta para dar resultados para nós”, exclama com visão de negócios e de empreendedor rural, seguida de uma boa risada. O agricultor conta com o apoio do filho Antonio Carlos na gestão da terra e dos negócios.
Seu Antonio de Candia reclama que para conseguir os R$ 103 mil, tem um custo de R$ 8 a R$ 10 mil com papeladas, correspondendo a quase 10% do financiamento, com “exigências do cartório, seguro, projeto”. Sugeriu que o banco deve facilitar a vida para quem paga em dia “honra o compromisso bem direitinho e até antecipado”, reclamou.
Sobre o carnaubal, Seu Antonio de Candio relata que se deve estar atento ao “momento”, que nada mais é do que ao mercado. “Se o preço do pó está bom, a gente vende assim. Agora, se o preço da cera está melhor, então vamos vender a cera”, destaca. Para isso tem na propriedade uma prensa de fazer a cera de carnaúba.
Sobre o caju, disse que já esteve muito bom, mas agora deu uma queda. Destacou também que a margem de lucro da carnaúba é “bem melhor do que a do cajueiro”. Para seu Antonio de Candio, o caju atualmente é um complemento de renda para o agricultor da sua região, sendo o carnaubal a principal receita.