Entrevista da terça #12

17 de setembro de 2024 - 16:44

Por Júlia Lopes

Você conhece o Programa Cientista Chefe, coordenado pela Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, a Funcap? O Programa existe há sete anos e tem como objetivo “unir o meio acadêmico e a gestão pública”, segundo o site da Fundação. E ainda: “Através dele, equipes de pesquisadores estão trabalhando nas secretarias ou órgãos mais estratégicos do Governo do Estado para identificar soluções de ciência, tecnologia e inovação que podem ser implantadas para melhorar os serviços e, desta forma, dar mais qualidade de vida para a população”. Você pode acessar a descrição completa aqui.

Desde 2023 o Idace vem sediando conversas com integrantes das universidades, o que tem gerado caminhos possíveis de pesquisa a partir do cotidiano das técnicas e técnicos que fazem o órgão. Foram esses processos que geraram três subprojetos inscritos no Programa, vinculados à Secretaria de Recursos Hídricos (SRH).

Todos os três subprojetos foram apresentados no Idace Debate do último 29 de agosto, evento promovido pelo Idace que traz, a cada mês, um debate sobre uma questão que atravessa o trabalho no campo. A Entrevista da terça antecipou alguns trechos desses projetos ao conversar com os responsáveis de cada subprojeto, como a professora Maria Inês Escobar e o professor Aécio Oliveira. Dessa vez, conversamos com o professor Jeovah Meireles, que conta um pouco sobre o projeto a ser desenvolvido na Tatajuba, no município de Camocim.

Boa leitura!


Foto: Viktor Braga/UFC

1. Conta um pouco sobre como a sua trajetória te levou para o Programa Cientista-chefe no Idace.
Com o desenvolvimento das pesquisas com abordagens interdisciplinares em territórios litorâneos, foi possível avançar na promoção de uma ciência engajada com os conhecimentos populares e étnicos. Essa dimensão metodológica proporcionará a participação das comunidades tradicionais costeiras e indígenas nas atividades de planejamento e gestão e colaborar com a conexão de saberes, para assegurar direitos socioambientais e justiça hídrica e climática.

O Programa Cientista-Chefe possibilitou avançar nos estudos para construção de um modelo inovador de Assentamento Estadual conjugado com uma Unidade de Conservação do tipo Reserva de Desenvolvimento Sustentável- RDS. Uma excelente oportunidade para consolidar novas abordagens necessárias para enfrentar os desafios relacionados com a qualidade dos sistemas costeiro e, especialmente, relacionados com as práticas socioambientais e econômicas locais . E compatibilizar a produção de alimentos, estudar as práticas comunitárias na planície costeira de Tatajuba e definir caminhos para consolidar a sustentabilidade socioambiental em tempos de emergência climática.

2. O projeto submetido ao programa trata da criação de indicadores. Você pode falar sobre o que motivou a lançar essa ideia, quais foram as evidências de base que fizeram esse projeto?

O modelo de dupla afetação territorial, piloto no Ceará, a ser implantado na planície costeira de Tatajuba, extremo oeste do Estado, consiste na criação, em uma mesma área, de um Projeto de Assentamento Estadual de Reforma Agrária (PE) e de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS).

Os procedimentos metodológicos foram sistematizados para fundamentar gestão participativa dos territórios com dupla afetação. O banco de dados resultante, com os mapas temáticos, zoneamento socioambiental, planos para ordenamento diante da emergência climática e gestão do território, proporcionará a análise integrada coletiva dos sistemas ambientais produtivos (agroecológicos e pesca), dos serviços ecológicos, e desde as práticas em assentamentos rurais em conjunção com a unidade de conservação.

3. Quais são as expectativas em relação ao processo de pesquisa? Como ele se estrutura, quantas pessoas fazem parte, quais territórios serão pesquisados?

Definir a diversidade de componentes ambientais, as práticas locais de manejo e os serviços ecológicos (SE) relacionados com o modo de vida e economia das vilas – Tatajuba, Vila São Francisco, Vila Nova, Vila da baixa da Tatajuba – serão relacionados com a qualidade e distribuição espacial dos componentes geoambientais e ecológicos distribuídos em uma área de 2.442,9104 ha.

O projeto será desenvolvido em 5 fases: oficinas de formação, mapas temáticos, zoneamento ambiental, planos locais para a gestão participativa e banco de dados georreferenciado e multidisciplinar. Essa estrutura de abordagem da dinâmica costeira com a diversidade de usos comunitários de uma população tradicionais de pesca e camponesa, será possível sistematizar e consolidar os avanços na inovação pública desde a proposta do Idace conduzida através dos conceitos e práticas com a Cidadania Agrária e Ambiental. Fazem parte da equipe 5 pesquisadoras e pesquisadores da UFC e do IFCE, especialistas em geotecnologias, planejamento socioambiental, serviços ecológicos, climatologia e soberania e segurança alimentar.

Ao final, certamente estaremos ampliando e qualificando novos instrumentos para consolidar inovação de territórios de reforma agrária conjugados com o Poder Público e a coletividades, com o bem de uso comum, as práticas adequadas para melhorar a produtividade de alimentos e conservação dos ecossistemas, com os demais instrumentos disponíveis no arranjo de um tipo de Unidade de Conservação denominada de Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS).