Entrevista da terça #9

6 de agosto de 2024 - 16:15

Tem gente que prefere viver no espaço urbano a morar no mato. Não é o casa de Sandra Forte, que trabalha no Idace há cerca de 15 anos. É no sertão que a vida ganha outras cores, mais vivacidade e também delicadeza.

Conviver com agricultoras e agricultores, pessoas beneficiadas ou que vão ser beneficiadas com a política pública da regularização fundiária, faz Sandra se nutrir para realizar seu trabalho no Idace.

Na conversa a seguir, ela conta um pouco dessa trajetória e dá um gostinho de como é visitar o sertão. Uma viagem que ninguém deveria perder!

Entenda a seção
A cada terça-feira uma nova conversa: com gente que trabalha no Idace ou não, mas que leva a luta no campo como bandeira. Que pensa a reforma agrária como uma urgência para um mundo mais igualitário, que faz do trabalho no campo um modo de relação saudável com a natureza e as gerações porvir. Essa é a nossa sexta entrevista. Acompanhe!

1. Fala um pouco sobre a sua formação como agrônoma e como essa formação te dá suporte para o trabalho no Idace.
Sou de Itapajé, sou filha de agricultores, vim pra Fortaleza estudar e na agronomia fui do Movimento Estudantil da UFC, militei na Feab – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil, onde conheci o MST e os assentamentos, desde então me encantei com as lindas histórias de vida daquelas pessoas, mulheres fortes que conquistaram com muita luta e sacrifícios de a terra para morar e trabalhar. Ao sair da faculdade fui trabalhar com MST em Crateús e Tamboril onde por todos os lados tem resquícios dos ensinamentos de Dom Fragoso na organização para a produção e conquista da terra. Vim pro Idace pra trabalhar com assentamentos de compra de terra que até então nem eram considerados assentamentos, mas que se juntaram ao movimento e conquistaram políticas públicas através do Idace pra quitar suas terras. Estou no Idace a 13 anos, com todas as dificuldades do Estado, prestando apoio a estas famílias assentadas.

2. Como é o trabalho de acompanhamento dos assentamentos?
No trabalho de acompanhamento dos assentamentos observamos nos últimos anos a dificuldade de acesso a recursos e políticas estaduais e federais para as famílias de agricultores,  mas o encantamento e admiração que sinto em cada visita, a cada mesa farta de colheitas ofertadas, a cada observação da vida vivida em coletivo, me motiva a permanecer tentando construir políticas de apoio a estes agricultores e agricultoras camponesas que tanto admiro.

3. Há alguns dias você nos enviou umas fotos muito bonitas e sensíveis, de uma casa, um casal, no sertão. Pode falar um pouco sobre o contexto da imagem?
No interior é que eu consigo me achar. Eu fico tranquila e justifica todo o meu estresse que o trabalho pode causar. Consigo visualizar, naquelas pessoas, o fundamento do que a gente está fazendo no Idace. O esforço que a gente faz se justifica naquelas pessoas. E aquela casa nem era em um assentamento, mas a gente parou pra olhar e fotografar, pela beleza mesmo. E a gente entrou pra conversar com aquele casal, eles são moradores. Eles estavam cozinhando um mugunzá e a gente sentou com eles um instante, pra conversar… Ela até me deu umas plantinhas… Era tudo lindo naquela casa. Cada detalhe: o rádio, o chapéu, a cozinha… Ela até reclamou da fuligem na cozinha, as paredes todas pintadas de preto: “Eu preciso pintar essa cozinha”. E eu até disse pra ela: “Não, é tão bonita a sua cozinha assim!”.
A gente estava muito feliz de estar ali, eles estavam visivelmente muito felizes de nos receber, contar sua história… Ela até deu um abraço na gente!
Nós somos muito bem acolhidos quando estamos no interior. Então eu realmente me sinto como se estivesse em casa, muito feliz num espaço daqueles. Naquelas casas antigas com arcos… Parece um portal. E o interior chovendo, aquelas estradas cheias de buracos, cansativas, e ao mesmo tempo tão lindas… Cheio de passarinhos e o verde das plantas. Fomos fazer uns cadastramentos no interior e voltamos com essas experiências.